Entendendo o Fenômeno Bolsonaro
A eleição acabou. É hora de fazer História. Como cristão, a busca da verdade à luz da Verdade é o que norteia minha reflexão. E como historiador, sei como devo trilhar os caminhos para entender o porquê de evangélicos, segmento do qual faço parte, apoiarem Jair Bolsonaro.
Ele era o único candidato que não era envolvido com corrupção? Bem, tínhamos também Amoedo, Daciolo, Eymael, e até Goulart Filho. Era o único a defender valores cristãos? Bem, tínhamos Daciolo, Eymael e até Marina com essa pretensão. O partido do Eymael é ligado às democracias-cristãs históricas na Europa, e Daciolo tinha até a linguagem pentecostal presente na maioria dos evangélicos — mas, ainda assim, o voto foi para o candidato do PSL. Sendo assim, o que foi que, dentre algumas opções, fizesse que Bolsonaro fosse escolhido por 59% dos evangélicos, segundo o IBOPE?
Diante de umas respostas que recebi numa enquete no Instagram, estou escrevendo algumas impressões sobre o comportamento dos evangélicos nessa eleição, inspirado pelo formato das 95 teses e Lutero (já que ontem foi o dia da Reforma). Mas veja bem, ainda não é um texto sobre o porquê de os evangélicos se comportarem da maneira que vimos nessas eleições. Para explicar bases conceituais, é preciso cavar mais fundo na reflexão, é quase um trabalho “geológico”.
Mesmo reconhecendo que existem muitos materiais que distorcem e sensacionalizam algumas falas do Bolsonaro, ele teima em dar declarações controversas, ao mesmo tempo em que, no seu plano de governo, afirma defender a liberdade e a democracia. Como entender isso?
Acredito que qualquer reflexão tenha de possuir uma clareza analítica que supere a polarização e os clichês. Isso não significa “neutralidade” ou “isenção”. Mas sair usando, ou melhor, acusando sem clareza gera confusão. Um dia, vi dois memes, um da “esquerda” e outro da “direita”, explicando o que é fascismo. Pelos critérios estabelecidos, Franklin Roosevelt e Edmund Burke poderiam ser fascistas. O que é um absurdo. Com isso quero dizer, especialmente aos meus amigos das humanidades, que sair gritando “fascista! racista!” e afins a torto e a direito pode tornar categorias legítimas completamente descredibilizadas. Àqueles mais “à esquerda”: preservar a memória da Ditadura é importantíssimo, mas invocar os espíritos de 1964, como quem tira um Super Trunfo ou completa um Exodia, gera mais antipatia que capacidade de reflexão.
Conceitos não são autoexplicativos, são concebidos a fim de entender o mundo e intervir nele. Se eu e você quisermos entender o fenômeno Bolsonaro (e tantos outros fenômenos por aí), sejamos claros no que queremos dizer com nossos conceitos — o que é democracia? O que é racismo? O que é fascismo?… E não tenhamos medo das críticas, afinal, o debate refina os argumentos.
Quando deixamos de lado a clareza dos conceitos e rejeitamos a crítica, nosso objetivo deixou de ser o de usar da reflexão para informar o leitor, mas de usar chavões para panfletagem.