Missão Amazônia 18
Um pouco sobre o que Deus tem falado ao meu coração
Já fazem duas semanas que retornei do meu primeiro projeto missionário. A experiência de calouro é sensacional, por isso esperei algum tempo para amadurecer algumas ideias antes de falar sobre essa experiência que Deus me permitiu ter. Passada a empolgação de quem retorna de uma imersão de sete dias, quero te contar um pouquinho da nossa rotina lá e de algumas reflexões que Deus colocou em meu coração.
O dia-a-dia da Missão
Todos os dias, começávamos com um momento de devocional em pequenos grupos, às 6:30, e seguíamos para o café. Às 7:30, partíamos para as comunidades, e retornávamos para o hotel às 16:30.
Atuamos em três comunidades distintas, que ficavam a 40–45 minutos de distância do hotel (no centro de Parintins), numa viagem de lancha. A comunidade do Maranhão, que recebeu a equipe de visitação às casas e a equipe de crianças; a comunidade de Santo Antônio do Tracajá; que recebeu toda a equipe, com atividades para crianças e adolescentes, e também atendimento médico, farmacêutico e odontológico, além de visitação aos lares; e a comunidade do Renovo do Senhor, que foi nossa base enquanto estivemos fora do hotel.
Algumas reflexões
1) Me disseram que meu primeiro impacto seria com o voo, e que muito provavelmente, por ser minha primeira vez em um avião, eu acabaria sentindo enjoo. A experiência de voar a primeira vez não me trouxe o medo nem o enjoo esperados na viagem, mas uma reflexão sobre a misericórdia de Deus. Em Pecadores nas mãos de um Deus irado, Jonathan Edwards comenta sobre a situação do homem pecador diante de Deus, e faz a seguinte comparação: tentar escapar da justiça de Deus é como tentar segurar uma avalanche com teias de aranha, e que é apenas a misericórdia de Deus que impede que se abra uma cratera na Terra e toda a humanidade caia nela. Durante o voo, pensei no porquê daquele avião (e tantos outros) não terem caído, sobre como algumas cidadezinhas que avistei do alto se mantinham, e sobre como aquelas comunidades do Rio Mamuru eram possíveis diante de tanta adversidade. A resposta? “A bondade do SENHOR é a razão de não sermos consumidos, as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã”. (Lamentações 3. 22,23).
2) O primeiro impacto, de verdade, foi com a natureza. Durante 6 dias passando cerca de 1 hora e 20 minutos em viagem pelos rios, pude ver que, de fato, que “os céus proclamam a glória do Senhor, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (Salmo 19. 1). Deus deu a natureza para que a humanidade cuidasse dela e cultivasse, sendo imagem e semelhança dEle (Gênesis 1. 26–29; 2. 15), e por vezes escuto justificativas para certas atitudes irresponsáveis com a criação de Deus no argumento de que “as profecias sobre a destruição do mundo têm de se cumprir”, ou que “Deus vai restaurar o mundo no fim de tudo”. Isso me lembra de que, porque a Criação mostra os atributos invisíveis de Deus, nós não temos desculpas diante de tamanha irresponsabilidade com a obra do Criador (Romanos 1. 19,20), e de que a natureza aguarda a libertação deste cativeiro da irresponsabilidade humana (Romanos 8.20–23).
3) Tudo é enorme na Amazônia (Basta olhar a região Parintins no mapa). Ouvi bastante, antes, durante, e depois da viagem, sobre o quanto a “ausência das autoridades” dificultava muito as coisas para os ribeirinhos. Problemas de política pública à parte, pude ver que realmente o esforço para vencer determinadas barreiras é gigante para qualquer um que pensa ir Amazônia adentro.
Isso revela o quanto nós, mesmo confessando a Cristo como salvador, às vezes pomos nossa esperança em outros senhores, especialmente o Estado. Existem determinados problemas cujo o interesse em resolvê-los só surge no coração de quem se entregou a Deus (por exemplo, o interesse de Neemias em restaurar um povo completamente destruído — cf. Neemias 1. 1–11). Somente aqueles que são pernas e braços de Cristo podem ir por todo mundo anunciando que existe uma boa notícia aos que sofrem e trabalhando em favor deles (Marcos 16. 15; Mateus 25. 31–45).
4) Quando estava nas comunidades, comecei a pensar sobre alguns fatores culturais e políticos enquanto trabalhava com a equipe missionária. Existem muitas vozes sobre preservação cultural, justiça social e igualdade, moral e bons costumes, e elas estavam presentes tanto aqui quanto nas comunidades em que visitamos. O trabalho na equipe de mídia me permitiu ouvir algumas histórias contadas pelos ribeirinhos, e refleti: o que a voz da preservação cultural diria para comunidades em que o alcoolismo e abuso de mulheres é naturalizado? O que a voz da justiça social e igualdade diria para uma mulher que foi expulsa de sua comunidade, por outras mulheres, depois de anunciar que reconheceu Jesus como seu salvador? O que a voz da moral e bons costumes diria para a liderança de uma comunidade que, em nome da moral e bons costumes, proíbe um conterrâneo de pisar em seu chão e por dizer que Jesus morreu por pecadores?
Percebi o quanto o que pensamos de Brasil se resume ao Sudeste, e o quanto nossos padrões culturais e políticos são seletivos sobre aspectos da complexidade do mundo que vivemos. Mas, ao ter oportunidade de falar com os ribeirinhos e ouvir pessoas dizerem que entendiam o que Jesus fez por elas na cruz, vi o quanto Jesus transcende e derruba qualquer preconceito humano (Gálatas 3. 28) porque Ele reconciliou todas as coisas com o Pai na cruz (Colossenses 1.13–20) — o que significa dizer que o Evangelho é comunicável a qualquer pessoa, de qualquer cultura, em qualquer época (Mateus 28. 18–20; Atos 2. 1–47).
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