Missão Amazônia 18

Um pouco sobre o que Deus tem falado ao meu coração

Leonardo Cruz
5 min readAug 10, 2018
Barco da Missão Amazônia no Igarapé Tracajá

Já fazem duas semanas que retornei do meu primeiro projeto missionário. A experiência de calouro é sensacional, por isso esperei algum tempo para amadurecer algumas ideias antes de falar sobre essa experiência que Deus me permitiu ter. Passada a empolgação de quem retorna de uma imersão de sete dias, quero te contar um pouquinho da nossa rotina lá e de algumas reflexões que Deus colocou em meu coração.

O dia-a-dia da Missão

Todos os dias, começávamos com um momento de devocional em pequenos grupos, às 6:30, e seguíamos para o café. Às 7:30, partíamos para as comunidades, e retornávamos para o hotel às 16:30.

Equipe na comunidade do Maranhão

Atuamos em três comunidades distintas, que ficavam a 40–45 minutos de distância do hotel (no centro de Parintins), numa viagem de lancha. A comunidade do Maranhão, que recebeu a equipe de visitação às casas e a equipe de crianças; a comunidade de Santo Antônio do Tracajá; que recebeu toda a equipe, com atividades para crianças e adolescentes, e também atendimento médico, farmacêutico e odontológico, além de visitação aos lares; e a comunidade do Renovo do Senhor, que foi nossa base enquanto estivemos fora do hotel.

Algumas reflexões

1) Me disseram que meu primeiro impacto seria com o voo, e que muito provavelmente, por ser minha primeira vez em um avião, eu acabaria sentindo enjoo. A experiência de voar a primeira vez não me trouxe o medo nem o enjoo esperados na viagem, mas uma reflexão sobre a misericórdia de Deus. Em Pecadores nas mãos de um Deus irado, Jonathan Edwards comenta sobre a situação do homem pecador diante de Deus, e faz a seguinte comparação: tentar escapar da justiça de Deus é como tentar segurar uma avalanche com teias de aranha, e que é apenas a misericórdia de Deus que impede que se abra uma cratera na Terra e toda a humanidade caia nela. Durante o voo, pensei no porquê daquele avião (e tantos outros) não terem caído, sobre como algumas cidadezinhas que avistei do alto se mantinham, e sobre como aquelas comunidades do Rio Mamuru eram possíveis diante de tanta adversidade. A resposta? “A bondade do SENHOR é a razão de não sermos consumidos, as suas misericórdias não têm fim; renovam-se cada manhã”. (Lamentações 3. 22,23).

2) O primeiro impacto, de verdade, foi com a natureza. Durante 6 dias passando cerca de 1 hora e 20 minutos em viagem pelos rios, pude ver que, de fato, que “os céus proclamam a glória do Senhor, e o firmamento anuncia a obra de suas mãos” (Salmo 19. 1). Deus deu a natureza para que a humanidade cuidasse dela e cultivasse, sendo imagem e semelhança dEle (Gênesis 1. 26–29; 2. 15), e por vezes escuto justificativas para certas atitudes irresponsáveis com a criação de Deus no argumento de que “as profecias sobre a destruição do mundo têm de se cumprir”, ou que “Deus vai restaurar o mundo no fim de tudo”. Isso me lembra de que, porque a Criação mostra os atributos invisíveis de Deus, nós não temos desculpas diante de tamanha irresponsabilidade com a obra do Criador (Romanos 1. 19,20), e de que a natureza aguarda a libertação deste cativeiro da irresponsabilidade humana (Romanos 8.20–23).

3) Tudo é enorme na Amazônia (Basta olhar a região Parintins no mapa). Ouvi bastante, antes, durante, e depois da viagem, sobre o quanto a “ausência das autoridades” dificultava muito as coisas para os ribeirinhos. Problemas de política pública à parte, pude ver que realmente o esforço para vencer determinadas barreiras é gigante para qualquer um que pensa ir Amazônia adentro.

Os ribeirinhos têm muitos problemas de visão por falta de proteção aos olhos quando trabalham nos rios, por isso levamos doações de bonés e óculos escuros

Isso revela o quanto nós, mesmo confessando a Cristo como salvador, às vezes pomos nossa esperança em outros senhores, especialmente o Estado. Existem determinados problemas cujo o interesse em resolvê-los só surge no coração de quem se entregou a Deus (por exemplo, o interesse de Neemias em restaurar um povo completamente destruído — cf. Neemias 1. 1–11). Somente aqueles que são pernas e braços de Cristo podem ir por todo mundo anunciando que existe uma boa notícia aos que sofrem e trabalhando em favor deles (Marcos 16. 15; Mateus 25. 31–45).

4) Quando estava nas comunidades, comecei a pensar sobre alguns fatores culturais e políticos enquanto trabalhava com a equipe missionária. Existem muitas vozes sobre preservação cultural, justiça social e igualdade, moral e bons costumes, e elas estavam presentes tanto aqui quanto nas comunidades em que visitamos. O trabalho na equipe de mídia me permitiu ouvir algumas histórias contadas pelos ribeirinhos, e refleti: o que a voz da preservação cultural diria para comunidades em que o alcoolismo e abuso de mulheres é naturalizado? O que a voz da justiça social e igualdade diria para uma mulher que foi expulsa de sua comunidade, por outras mulheres, depois de anunciar que reconheceu Jesus como seu salvador? O que a voz da moral e bons costumes diria para a liderança de uma comunidade que, em nome da moral e bons costumes, proíbe um conterrâneo de pisar em seu chão e por dizer que Jesus morreu por pecadores?

Percebi o quanto o que pensamos de Brasil se resume ao Sudeste, e o quanto nossos padrões culturais e políticos são seletivos sobre aspectos da complexidade do mundo que vivemos. Mas, ao ter oportunidade de falar com os ribeirinhos e ouvir pessoas dizerem que entendiam o que Jesus fez por elas na cruz, vi o quanto Jesus transcende e derruba qualquer preconceito humano (Gálatas 3. 28) porque Ele reconciliou todas as coisas com o Pai na cruz (Colossenses 1.13–20) — o que significa dizer que o Evangelho é comunicável a qualquer pessoa, de qualquer cultura, em qualquer época (Mateus 28. 18–20; Atos 2. 1–47).

Quer saber um pouco mais da Missão Amazônia 18? Veja aqui!

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Leonardo Cruz
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Written by Leonardo Cruz

Cristão, Presbiteriano, mestrando em História - UFF; voluntário na Associação Brasileira de Cristãos na Ciência (ABC²).

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